2012, o ano mais Yin-Yang de todos

Yin-Yang2012 tem sido um ano tão diferente que dessa vez senti vontade de registra-lo. Algo que o resume bem para mim é o antigo símbolo oriental Yin-Yang. Segundo a Wikipedia, Yin-Yang são dois conceitos do taoísmo, que expõem a dualidade de tudo o que existe no universo. Descreve as duas forças fundamentais opostas e complementares, que se encontram em todas as coisas. O Yang é o princípio ativo, diurno, luminoso, quente. Já o Yin, é o princípio passivo, noturno, escuro, frio. Assim tem sido meu 2012, cheio de opostos, contradições, complementos, dúvidas e certezas.

A começar de que no 1º semestre eu estava em solo africano. Não podia ser mesmo um ano comum. Eu poderia dizer qua Moçambique foi um presente grego se pessimista eu fosse, porque cá entre nós, eu teria bons motivos para pensar assim. Saí do Brasil com um emprego estável, salário bacanérrimo para uma mulher de 24 anos, uma casa mobiliada, Leona e eu vivendo na santa paz. Voltei sem Leona, sem emprego, sem dinheiro, sem casa. Uma bela receita para enlouquecer, mas resolvi aceitar a experiência como um real presente. Grego era apenas meu pensamento egoísta sobre isso tudo.

Lembro que comecei Janeiro muito bem, ao lado de amigos muito queridos, um Reveillon meio sem fogos em Maputo mas ok! Estávamos felizes pois estávamos juntos, longe de nossas famílias e amigos de longa data, mas estávamos juntos. Nos dando carinho, ombro, risos, etc. Um fato triste aconteceu, minha professora de inglês foi brutalmente assassinada e passamos dias bem esquisitos, com uma sensação de insegurança e impotência. Fiz meus 25 anos, e foi inevitável pensar que “Eita, 1/3 já se foi, com muita sorte 1/4, e o que foi que eu fiz nesse tempo?”.

Fevereiro e Março foram meses que simplesmente passaram e eu sinceramente não me lembro de algo expressivo. Mas me lembro de um clima estranho no ar, aquele sexto sentido feminino que tentou por várias vezes me avisar sobre muitas coisas e eu com minha incrível capacidade de ignorar, ignorei. Mas Abril foi até bacana, fiz meu segundo safari na África do Sul onde ganhei o céu mais estrelado que já vi na vida, um guepardo (cheetah) a poucos metros fazendo várias gracinhas como um gatinho e babuínos tentando invadir o carro. Além disso, foi o mês em que completei 1 ano em Moçambique e lembro que o saldo foi positivo e até escrevi sobre isso.

Cheetah no Kruger Park, África do Sul

Cheetah no Kruger Park, África do Sul

Um dos 3 babuínos que subiram no carro no Kruger Park, África do Sul! Medo mas bom d+!!!

Um dos 3 babuínos que subiram no carro no Kruger Park, África do Sul! Medo mas bom d+!!!

Em Maio veio a parte grega do presente. O príncipe cansou, o romance acabou e não foi nada divertido pra princesa aqui. Um dos meses mais difíceis de toda minha vida, e só quem ficou do meu lado para entender. Difícil pela dor do susto e difícil pelo maior processo de mudança que já aconteceu comigo. Em um mês muita coisa em mim mudou, muita coisa se foi e muita coisa nova chegou. Foi o mês onde conheci um dos livros mais importantes pra mim até hoje, “A essência do amor” por Osho. E o mês onde me permiti viver como se fosse o último mês de vida! Foi incrível! E teve o festival de artes na Suazilândia, o Bush Fire, que foi o desfecho mais fantástico de África! Onde recarreguei as energias para voltar para o Brasil na vibe certa.

Dançando do Bush Fire 2012!

Dançando do Bush Fire 2012!

Malta (galera) de Moçambique no Bush Fire 2012! Inesquecível!

Malta (galera) de Moçambique no Bush Fire 2012! Inesquecível!

Depois de muito dengo dos meus amigos e não posso deixar de citar Rebeca Lima, Lívia Monteiro, Marcela Figueirêdo, Renata Moraes e Lidi Mendes que estiveram comigo de uma forma que eu serei eternamente grata, chegou dia 12 de Junho, o dia em que embarquei de volta para minha terra. Rsrsrs… (rindo pra não chorar!) E mais uma vez me vi nos metrôs e prédios cinzas de Sampa. Mais uma vez na zona leste, e depois de 4 anos de independência foi o colo de mãe que me acolheu. Que mês estranho. Chorei muito, saudade da Le, achei que não iria me adaptar, por outro lado comecei a rever pessoas queridas, os dias foram passando e vi que difícil seria e está sendo mesmo, mas nada impossível.

Eu e Du no YouPix 2012!

Eu e Du no YouPix 2012!

Julho marcou o início do 2º semestre, e sério, uma nova vida começou. Foi quando um desejo de contar pro mundo como África foi linda e libertadora surgiu. Foi quando eu percebi que ser escritora de literatura infanto-juvenil poderia ser um caminho. Foi quando amigos me convidaram pra pôr a cabeça pra funcionar num projeto bacana no bairro de São Miguel Paulista, o Vizinhando, valeu Beto, Guigo e Du! Dei um pulo em Socorro e Paranapiacaba e foi bem bacana! Mas o mais incrível foi que mesmo querendo distância de relacionamentos, meu amigo Eduardo em pleno YouPix (evento voltado ao público da internet) me mandou um sms dizendo: “Desce para conhecer o Carriço”. Era Felipe Carriço, um cara que escrevia pro Discorra.com assim como eu, líamos os textos um do outro e só. Quando conheci o Fe, pensei “Vai dar merda!”. Rsrsrs… Porque na hora senti aquela sensação de “era isso que eu precisava”. Eu sabia que por mais traumatizada e assustada que estivesse, eu deveria tentar. Estamos juntos até hoje. 🙂

Fe e eu! :)

Fe e eu! 🙂

O mês seguinte foi um marco. Foi quando comecei a visitar escolas públicas e entender como minha experiência em Moçambique poderia contribuir para o meu meio social. Em Agosto, a EMEF Pedro Teixeira me abraçou como uma mãe e nasceu a peça de teatro “Marula Brasil – A terra de Kianga, Thairú e o Feitor de Pão”.

Eu e o vô Heraldo!Setembro, veio a confirmação, nascia o projeto Marula Brasil. Ainda engatinhando, imaginando como seria. Dei um pulo em Itatiba, mais uma pequena viagem para alimentar esse bichinho que adora uma mochila nas costas. Conheci Fernanda Galli, a correspondente da Argentina do meu 1º blog, o A grama da vizinha. Mas o maior presente foi ter conhecido pessoalmente meu avô paterno, o galego pernambucano de olho azul, Heraldo. Foi ele quem casou com a quase índia Ete, minha avó querida. Um marinheiro que foi se aventurar, e que só conheceu os netos paulistanos neste ano. Ouvir suas histórias, poder abraçar, cheirar, beijar. Esse foi um dos dias que entendi o porquê de estar no Brasil novamente.

Outubro foi a correria mais deliciosa! O projeto ganhou forma, a amiga e psicóloga Patricia Lira veio me auxiliar e assim nasceram as Vivências em escolas públicas. Foi um mês desafiador, preparar material, pensar na didática e dinâmicas, visitar escolas para fechar agenda. Fui muito bem recebida e mais uma vez senti: tudo valeu a pena!

Ah, Novembro… um dos melhores meses da minha vida! Nunca fui tão feliz profissionalmente. Sim, profissionalmente porque apesar de tudo ter sido feito de forma voluntária, eu palestrei sobre algo que acredito e senti que trabalhar das 7h da manhã as 18h, chegando rouca, com as pernas doendo, boca cortada de tanto falar prejudicando minha alimentação, esgotada mentalmente pois as crianças e adolescentes realmente não estão fáceis, saúde dando sinais de esgotamento devido ao estresse de todo esse ano, pegando piolho já na 1ª semana de projeto, rsrs… enfim, mesmo com tudo isso, no fim do dia eu estava realizada! Feliz! Dia 30 de Novembro foi o dia da apresentação da peça de teatro e sim, eu pisei no céu e voltei! Valeu a pena! Aos professores queridos da EMEF Pedro Teixeira, meu muito obrigada em particular, vocês foram incríveis! E os amigos que também auxiliaram de forma voluntária meu mega, OBRIGADA! 🙂

Vivências Marula Brasil - EMEF Gov. Mário Covas

Vivências Marula Brasil – EMEF Gov. Mário Covas

Eu, Pati  e crianças no projeto!

Eu, Pati e crianças no projeto!

Vivências Marula Brasil

Pai e mestres experimentando Moçambique, experimentando África!

Pai e mestres experimentando Moçambique, experimentando África!

Professores no cenário da peça "Marula Brasil - A terra de Kianga, Thairú e o Feitor de Pão"

Professores no cenário da peça “Marula Brasil – A terra de Kianga, Thairú e o Feitor de Pão”

Alunos e professores eufóricos após a apresentação do teatro! (foto por Vanderson Atalaia)

Alunos e professores eufóricos após a apresentação do teatro! (foto por Vanderson Atalaia)

Chegou Dezembro. E surgiu uma tela em branco a ser pintada. Apesar de assustador, senti algo muito bom em relação ao “não saber”. Tudo é possível. Várias opções. Voltar a trabalhar em grandes empresas como foi antes de África, investir no projeto para que ele se sustente e não deixemos de atender esse público tão carente esquecido pelas autoridades e pela própria sociedade. Enfim, várias possibilidades.

Soneca com Leona, tempos bons que já já vão voltar!

Ainda não tenho todas as respostas, não sei como o próximo ano será. Dias aflitos, dias calmos onde uma certeza de que tudo correrá bem pois a lei do retorno existe, dias neutros, dias eufóricos. Todos eles estão me preparando para 2013. Um ano em que desejo ser feliz acima de tudo. E hoje, o que me traz felicidade é bem diferente. Uma nova Sâmela, muito melhor do que antes. Um ser humano melhor. E lógico, desejos novos. De antigo mesmo só desejo Leona e isso acontecerá em breve. De resto, que tudo se faça novo!

Sâmela Silva, é Jornalista, Consultora em Gestão Empresarial e Palestrante pelo projeto Marula Brasil. Curiosa que é, teve a oportunidade de morar em Moçambique, África, onde o despertar pela escrita falou mais alto.

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