Um novo idioma: 3 fatores que dificultam o aprendizado dos brasileiros

CPLP – Países de Língua Portuguesa

Herdamos o Português dos nossos colonizadores, e hoje, de acordo com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), 8 países possuem esta língua como oficial, mas… será que conhecer apenas a língua portuguesa é suficiente? Ao meu ver, sim e não. Sim se você não desejar um cargo melhor, trabalhar em uma multinacional, viajar o mundo, utilizar alguns softwares, etc. E não, se você tiver o lado bom da ambição, aquele desejo de ir cada vez mais longe. Ser bilíngue já é quase uma obrigação, e acredito que no Brasil ainda é um diferencial porque, na grande proporção populacional, demoramos a aprender e a nos interessar por este aprendizado.

Quando eu soube que viria para Moçambique, fiquei mais tranquila pois achei que seria mais fácil conseguir um bom emprego, já que o idioma não seria um obstáculo. Ledo engano. Realmente a língua oficial de Moçambique é o Português, mas a grande maioria das vagas exige fluência na língua inglesa. Vira-e-mexe, ouço pessoas, de diferentes classes sociais, falando Inglês nas ruas. Sinto que os moçambicanos tem facilidade para aprender outros idiomas. Talvez pela convivência com os países vizinhos que tem o Inglês como idioma oficial, ou pela quantidade de gringos que vem para cá, pela necessidade de estudar fora já que nem sempre aqui encontram oportunidades de aperfeiçoar suas carreiras, ou então o forte consumo de cultura internacional. Na real, acredito que seja um pouco de tudo isso. E foi convivendo com esta diferença que minhas caraminholas começaram a me questionar: Por que então nós brasileiros temos tanta dificuldade em aprender a língua inglesa, por exemplo? Tenho chegado à algumas conclusões:

1) Brasil – um país continental

Fonte: Wikipédia

São 8.514.876,599 km2 para um único país, somos o maior da América Latina e o 5º maior do mundo no quesito “território”. Disso nós já sabíamos, o que eu não havia parado para pensar é o quanto isso pode influenciar no nosso aprendizado. Estamos muuuuuuito longe dos nossos países vizinhos. Não temos tanto contato com as nossas fronteiras, já é difícil e caro conhecer outros estados brasileiros, imagine ficar indo-e-vindo de um país para o outro? É inviável. E é aí que perdemos uma interação importantíssima, que prepararia nossos ouvidos e dicção. Fora que estamos rodeados por países que em sua maioria falam o Espanhol, e assim vamos ficando cada vez mais distantes do Inglês.

2) Ensino de línguas “daquele jeito”

Eu estudo inglês desde os 5 anos de idade, no jardim de infância. No Ensino fundamental, estudei em uma escola conceituada, e no Ensino Médio, passei em um Colégio Público de Ensino Técnico, finalizando com o Bacharelado em Jornalismo. Em todas estas fases tive aulas de Inglês, todas. E me perguntem se sou fluente? O Brasil fornece um ensino safado de Inglês, raras instituições conseguem realmente nos fazer quebrar a linha do verbo “to be”. E as que conseguem, normalmente para ingressarmos, é necessário vender um rim para pagar metade do curso. Estudar Inglês duas vezes na semana, exausta da rotina de trabalho, sem ter contato com mais nada no restante dos dias, pra mim não funcionou. No mínimo, deveríamos ser fluentes no nosso vizinho Espanhol, até pela maior similaridade da língua, mas não há investimento real nisso. Crescemos sem este suporte. Sorte daqueles estudiosos, disciplinados, autodidatas, que conseguem aprender sozinhos ou com uma facilidade invejável, ou dos que tem condições financeiras de estudar em escolas bilíngues ou fazer intercâmbios, mas infelizmente eles são minoria dentro do universo de 190.732.694 brasileiros.

3) Baixo estímulo dos meios

Bom, acima já citei 2 fatores que desestimulam qualquer um, mas além deles passei a perceber o quanto os meios de comunicação não nos ajudam.  Filmes dublados são os campeões, a gente não consegue sequer absorver o idioma inconscientemente porque insistimos em assistir tudo dublado. Graças à Santa do Inglês de Nós Todos, isso tem mudado aos poucos, e muitos brasileiros já optam por assistir apenas a versão legendada, onde ouvimos o idioma original e nas letrinhas embaixo vem o lindinho do Português pra nos ajudar. Ok, isso já é um começo! 🙂 Outra coisa são os programas de TV e os Telejornais. Eu não sei se é vergonha, desleixo ou desprezo mesmo, mas como é difícil usarem palavras estrangeiras de forma correta. Se 2 ou 3 jornalistas participam de uma reportagem e tiverem que falar uma palavra em Inglês, reparem no sotaque. Cada um pronuncia de um jeito, e tem gente que pronuncia muuuuito errado. Fica difícil absorver e ir se familiarizando com outras línguas dessa maneira. Não há um cuidado, não levamos a sério.

Já haviam parado para pensar nisso? O que mais vocês acham que dificulta o nosso cérebro a absorver definitivamente uma nova língua? Pra “ajudar”, tudo isso sempre parece ser uma grande besteira até perdemos uma boa vaga de emprego, até viajarmos e não conseguirmos entender um espetáculo, uma explicação em museus, ou até mesmo os itens básicos como pedir uma porção de arroz extra, até conhecermos pessoas de outras nacionalidades e não conseguirmos conversar, até deixarmos de consumir, participar ou aprender algo por não ter ao menos as noções básicas da língua.

Por isso meus amigos brasileiros, se eu tenho alguma coisa pra aconselhar nesta vida é: tentem ao máximo superar estas dificuldades linguísticas que nos cercam e aprendam de vez outros idiomas, e se tiverem a chance, dêem aos seus filhos a oportunidade real de serem alfabetizados também em outro idioma. Eles serão eternamente gratos. Por aqui, estou eu a rezar à Santa do Inglês de Nós Todos, a viajar, a estudar, e a melhorar o meu inglês a cada dia e a torcer para em breve rolar um intercâmbio. Amém.

Sâmela Silva, é uma brasileira, que de viagem em viagem, foi morar em Moçambique, África, onde o despertar pela escrita falou mais alto. Jornalista e Consultora em Gestão Empresarial, vem descobrindo o mundo e se descobrindo por meio de ideias rabiscadas nos bloquinhos virtuais. LinkedIn | Twitter | Facebook | Blog “A grama da vizinha”